quarta-feira, março 28, 2007

ENSAIO


Tudo é possível, disse Elfon, ao sair da palestra. E emendou, é... O respeito me parece, cada vez mais, uma virtude de dicionário. Diante da interrogação de que o ar se impregnou no silêncio do olhar percebido de viés em mim, ele fez questão de prolongar minha espera com passos compassados e firmes, olhar pregado ao chão mais próximo, até o último degrau da escada. Digo isso porque o blábláblá lá de dentro me botou em recordações de momentos que, claramente, percebo o desleixo que se faz em relação ao outro, ou ao próximo, como queiras, em nome de uma satisfação tão efêmera, quanto o é a sensação de poder ao dizer-se que se pode, a justificar os fins pelos meios. Uma ocasião estava eu em minha casa com uma ex-companheira, continuou ele, os dois meio amuados depois de um entrevero, desses que, como diria Chico Buarque, se dá por confusão de pernas, que é quando você já não sabe mais se vai com as tuas ou com as dela, coisa de despreparo na lida da convivência, me aparece um casal de amigos que até hoje os levo em conta de mais profundo respeito. Vai de cá, vai de lá e percebo uma certa inquietação do amigo, que faz questão de me isolar dos demais, inclusive dele que some rapidamente, para mostrar uma matéria qualquer no jornal que trouxera consigo, coisa sem importância ou, pelo menos, sem a importância que colocara em convencimento de me entreter. Intuí algo enganoso, algo fraudulento, algo escuso que me feria sem que eu pudesse localizar a proveniência de uma espécie de pontaço traiçoeiro. Logo nos juntamos novamente e aquilo ficou submerso, em águas rasas, é certo, mas suficientes para que minha visão não o percebesse de forma constante. Qual não foi minha surpresa quando, no dia seguinte, vim saber que tudo não passara de uma estratégia de péssima qualidade, rasteira eu diria, para saber o que se passava conosco, o porquê do amuo mutuo. Sei, ainda não percebestes aonde eu quero chegar. Pois bem, não quero chegar a lugar algum, quero apenas pensar que a trajetória ao respeito não carece de estratégias, é o caminho direto desde um espaço-tempo de paz que se estrutura na linguagem humana. Continuamos andando, lado a lado, agora em silêncio, até que Elfon, suavemente o quebrou com um sorriso gutural.

Roberto Bittencourt




Depois de uma semana sem postar, aqui estou novamente.
Ocorre que queimou minha placa de rede e somente hoje o técnico conseguiu trocar.
Pra recomeçar, um pequeno ensaio.

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