À sua crença mamãe
A propósito de um convite para escrever sobre minha mãe
Roberto Bittencourt
O texto de um filho da mãe como eu, pode se dar somente de forma poética a ecoar campo afora até o permeio da floresta nativa: ética, ética, ética...
Desde que a solidão se instalou sob o olhar por órgão míope, os revezes do mundo me foram abrandados pela determinação de uma matriz que se fez perceptível por inteiro e, desse modo, inteirou-me da vida. Por isso, esta voz incontida do olhar que se estica ao dizer de um eco abençoado desde o tenro balbuciar de guri em cueiro; o dizer de um filho da mãe que se faz em fluxo e que se dá ao presente por observar as instâncias de seu tempo na convivência. Nada de extraordinário, senão a dimensão de uma ordem possível que atua em coerência com as emoções de uma infância desatada do equilíbrio; solta ao sopro renovado a cada manhã por conta de orvalhos, névoas e de novas floradas.
Este grito, por assim dizer, reverberação que se posta em saudade, traz como timbre a mãe que não se define por sexo, mas por matriz de convívio em respeito e de conquistas em solidariedade. A mulher desta percepção, portanto, se desvencilha da indústria que aprimora a fragilidade calhorda ao reproduzir os modelos de uma moral de superfície e vive sob os padrões de “um átomo a mais que se animou”, como diria José Régio a partir de seu “Cântico Negro”. E na trajetória de cada átomo que se anima, o sexo se conforma na poeira de um redemoinho genético que determina, nos bastidores da linguagem, as taxas de estrogênio e de testosterona que nos anima.
Dizer de determinada mãe é tarefa para determinado filho. E, uma vez que a determinação de cada estrutura pressupõe unidade em si, qualquer filho diz, a seu modo, da matriz que lhe permite ou não sustentar o contínuo presente em harmonia com as leis naturais, traduzidas em ética. Daí que aceitar o convite de um irmão para falar sobre matriz em comum, significa a emissão involuntária de uma espécie de atestado das condutas por ela geradas. De todo modo, coerências à mostra. Ali, num pedido de benção de quem conduz ações políticas na condição de princípios éticos; aqui, numa percepção de quem distingue ética de moral como princípio político.
No sentido que se consagra este espaço de cunho político, portanto, as observações se dão a propósito do bem-estar que se evoca da vida como cidadãos do mundo. Desse modo, a linguagem resulta confiança, prosseguimento de um presente que acontece a partir de uma mãe que se doa em liberdade; da matriz no espaço de convivência que, de algum modo, viabiliza segurança. Dos laços vitais nas emoções que individualmente se experimenta, as pontes para o presente não representam qualquer impulso, mas apresentam a disposição de momento em fortalecer a própria estrutura que assim se determina. Convicção, pleno fortalecimento das instituições vividas em profunda reflexão sobre os limites e o transbordo conscientes. Daí um tempo de respeito à causa presente e o desenlace da crença em um deus além das condutas.
Um comentário:
minha noça mãe do guarda. qe testo bonito, primo.
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