sexta-feira, agosto 19, 2005

Luz do olhar


Você bem que podia me ensinar como se transforma um olhar candeeiro, tocha em chama, em gelo seco. Ensinar-me a química desse olhar nebuloso que se aventura sem face para além de uma fronteira razoável. Apontar-me, ao menos, o rumo dessa experiência singular que naturalmente lhe cabe sem qualquer interferência.

Não que com isso alguma coisa vá mudar na Bolsa de Londres, na Congregação para a Doutrina da Fé, no saque à Biodiversidade Amazônica, nos discursos na Casa da Mãe Joana. Mas se você me desse uma dica, uma pista qualquer de como se olha assim sem brilho, talvez eu pudesse percorrer sem susto um corredor que leve a algum poder que a palavra poder desperte. Quem sabe se eu não percebia um equívoco feito palanque-mestre, um erro sintático, morfológico, um erro de cálculo em função de uma ordem expressa.

Assim, mesmo que anoiteça de seu ponto de vista, permanece clara a minha disposição em contribuir para que nada aconteça sem o lume de sua presença, sem o necessário alarido sobre qualquer sentença. Você me confiava um segredo e eu permanecia ouvinte até compreender uma coerência que me faça sentido, que me conduza ao Planalto Catarinense. É isso o que lampeja de um olhar que percebo num everest a desafiar minhas forças, meus propósitos.

Se eu lhe dissesse para entender como apelo esta minha fala, por certo, a sua aventura se daria em lamentos, em espaços de um possível atrevimento que jamais me moveria. Por isso, entenda na perspectiva de sua chegada a um jardim para colher flores, na expectativa de um nexo que lhe insira plenamente ao caos. Não tenha olhos para me ouvir, para atentar ao que fuja de uma simples sugestão para que você me ensine o caminho de geleiras sob pálpebras.

Por mais que eu amplie as margens não participo de seu entendimento, não estabeleço pontes por sobre a linguagem – lugar em que você e eu escorremos ao futuro –, e, também, não lhe conheço, em absoluto. Apenas intuo esse olhar sem data, sem espelho, sem um triz de alguma coisa que lembre luz. Esse olhar de momento que me põe curioso, que desperta um aprendiz que não dispensa precipícios rumo ao olhar humano.

Penso que somente ou por tudo isso você podia conceder-me uma lasca de seu tempo, uma gota de sua generosidade ao alisar seu cenho em resposta, ao conferir-se a dignidade deste tom ilusório. Talvez assim, todas as metáforas que transitem entre átomo e espírito compareçam na próxima esquina, numa confirmação de que há luz em seu olhar e de que ela quantifica-se na dimensão de um poder relativo.

Roberto Bittencourt

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá,Roberto!!!
Estou passando aqui para avisar que mandei essa poesia para um amigo que gostou muito!
Espero que ele também se torne seu fan como eu ja sou!!!

Bjs para a Raquel!
saude e sorte pra vocês!
bjão

Roberto Bittencourt disse...

Bianca, querida!
Eu havia lido essa sua mensagem na minha caixa de correio. Somente hoje percebi que você a deixou aqui. Gostei muito.

Um beijo