terça-feira, setembro 26, 2006


Cada vez mais me impressiona a industria da informação com seus letrados e eloqüentes operários a preencher páginas e páginas, horas e horas, semanas e semanas na produção de artigos de primeiríssima necessidade. Eu me pergunto como viveríamos nós, pobres eleitores, sem a zelosa dedicação desse verdadeiro exército de operários da notícia; como acertaríamos na nossa modesta escolha sem esse dilúvio de informações arquitetadas em nome da decência.

Sim, porque você pensa que é fácil acertar uma escolha? Ou você acha certo eles apenas informarem, sem uma causa nobre por trás como a ética, por exemplo? Isso é o de menos, o que importa é falar em nome de alguma coisa e ética, além de bonita, é uma palavra que pouca gente sabe o significado. O que facilita consideravelmente o trabalho dessa gente tão dedicada e cheia de argumentos, e de provas, e de uma coerência incrivelmente incrustada na história.

Lá vou eu me sentir povo novamente. Esse sentimento é ultrajante, me bota cada vez com mais inveja desses maravilhosos e, porque não, fantásticos operários da mídia. Eles pensam o que tem de ser pensado e isso basta; dizem de todas as formas como deve se comportar o cidadão, qual é a melhor e a pior política para o país, em quem se deve votar... Agora, não é assim tão simples escolher porque, segundo eles, a melhor política nem sempre é feita pelo melhor político.

É evidente que não estou generalizando. Do contrário cometeria grande injustiça com esses profissionais que tanto se dedicam ao fortalecimento da indústria da informação, já que os poucos que mostram todas as opções possíveis em nada contribuem para essa industria pródiga ao mercado. E, de mais a mais, se estes não têm um espaço na grande mídia é justamente por falta de comprometimento com as questões de hegemonia e os meios afins. Que se danem.

Cá pra nós, eu descobri que estou com um sério problema em relação à imprensa cujo sintoma consiste na inversão voluntária de valores absolutamente estruturados desde uma concepção única e individual na convivência que momentaneamente arranjo em sintaxes aparentemente verdadeiras. Em outras palavras, a coisa não é bem assim, ainda quer assim seja feita.

Roberto Bittencourt

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