sexta-feira, setembro 15, 2006


Junqueira

É de dar dó compreender os motivos do gesto violento. Digo isso porque é sabido que o Junqueira, queira ou não, vive de favores. Nem tanto ele que de um jeito ou de outro se vira, mas sua prole, certamente, ta lá aguardando umas migalhas da vida. Mas, por favor, não entenda culpa, uma vez que não se percebe o gesto através de mote e este exercício investigativo sobre uma coerência infinita somente busca imprimir legitimidade ao gesto em si.

Não há julgamento, apenas um certo rastreamento do olhar de Junqueira a partir da visão do sangue na oficina. Guri já é curioso, se vê o pai bufando com uma marreta nas mãos então, nem se fale. Vá entender o porquê daquilo. Tudo bem que se falou em provocação, literalmente, de mijada nas costas, de tapa na cara. Mas, daí pra esfacelar uma cabeça... Qual seria uma provável distância?

Sabe-se que o fruto não cai longe do pé. Mas isso é muito pouco pra determinar a distância entre motivo e gesto. Essa medida tem Junqueira na estrutura de suas crenças, de suas percepções, de seus créditos legitimados desde o olhar cravado ao menor indício de um inimigo. De sua prole, se salva quem pisa na linha demarcada. E não me venham com essa de que não se bate em criança, quem se meter leva porrada também.

Eu faço o que posso, comida não deixo faltar, bolacha, doce, essas coisas cada um escolhe a seu gosto, não me importo. Coisas de higiene também, uma escovinha pra cada um todo mês... Agora, só vai abrir quando eu autorizar e no banheiro, não tem essa de abrir na cozinha e deixar jogada por aí. Comigo é assim, sou muito bom, mas não me tire do sério porque não respondo por mim.

Só ouvi a sirene, acabo de chegar. Que tipo de ironia deixaria alguém tão furioso? Pobre Junqueira, nem quis se livrar do flagrante.

Roberto Bittencourt

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