quarta-feira, outubro 18, 2006


A opção preferencial pelos pobres, alardeada aos quatro ventos como mote político de sustentação do poder carrega consigo ao menos um equívoco de ordem geral. Trata-se de visão restrita da dimensão histórica humana, impulsionada por certa materialização do pensamento em busca de poder. As perspectivas dessa visão são traçadas de modo a isolar no espaço/tempo uma desigualdade material que, em detrimento do pensamento quântico, permanece em luta dialética na dinâmica de um pensamento de poder cada vez mais corrompido e violento.

Localiza-se esse equívoco no traçado perspectivo que caracteriza liberdade, igualdade e fraternidade como instrumentos a serviço do poder político. A importância dessa trilogia a partir do marco histórico que consagrou a Revolução Francesa, assim, assume contornos maquiavélicos no discurso político ocidental por conta de um fim que, sempre messiânico, justifica qualquer meio. Nesse sentido, a democracia republicana do Norte, por exemplo, vai além do discurso: tortura e mata sempre sob escudo de um desses três instrumentos.

Isso quer dizer que a opção preferencial por pobre ou por rico tanto faz, já que se trata de retórica. A questão de preferência pelos pobres se resume à ampla margem numérica que estes representam em relação aos ricos. Os discursos políticos, portanto, diferem apenas na forma de dizer aos pobres que eles são a razão do poder que outorgam. A mensagem de opção preferencial pelos ricos seria impossível diante dos fatos, contudo, uma vez sem igualdade é imprescindível maioria de pobres ou de ricos. Daí que, já que a maioria é pobre, que assim permaneça e sempre serão preferidos.

A questão, decididamente, não é de opção por esta ou aquela classe, por este ou aquele segmento senão pelo conjunto de individualidades humanas que dialogam no plano político/social na construção do bem comum. Esse é o sentido do voto que outorga poder de representação democrática a outro indivíduo que se disponha perceber além da dialética e do discurso pela ética, estética de uma formação política capaz de produzir a paz. Liberto, igual e fraterno pobre ou rico não será por preferência de representação, será, no mínimo, por gosto e por desgosto. Isso posto...

Roberto Bittencourt

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