sexta-feira, março 30, 2007
quinta-feira, março 29, 2007
Dignidade
Não incorro em risco
amado desde guri na
independência do lodo que vim
para fuçar muros,
massagear teu pé,
pernoitar em abandono e
ainda assim
ser dono de mim.
Roberto Bittencourt
amado desde guri na
independência do lodo que vim
para fuçar muros,
massagear teu pé,
pernoitar em abandono e
ainda assim
ser dono de mim.
Roberto Bittencourt
quarta-feira, março 28, 2007
ENSAIO
Tudo é possível, disse Elfon, ao sair da palestra. E emendou, é... O respeito me parece, cada vez mais, uma virtude de dicionário. Diante da interrogação de que o ar se impregnou no silêncio do olhar percebido de viés em mim, ele fez questão de prolongar minha espera com passos compassados e firmes, olhar pregado ao chão mais próximo, até o último degrau da escada. Digo isso porque o blábláblá lá de dentro me botou em recordações de momentos que, claramente, percebo o desleixo que se faz em relação ao outro, ou ao próximo, como queiras, em nome de uma satisfação tão efêmera, quanto o é a sensação de poder ao dizer-se que se pode, a justificar os fins pelos meios. Uma ocasião estava eu em minha casa com uma ex-companheira, continuou ele, os dois meio amuados depois de um entrevero, desses que, como diria Chico Buarque, se dá por confusão de pernas, que é quando você já não sabe mais se vai com as tuas ou com as dela, coisa de despreparo na lida da convivência, me aparece um casal de amigos que até hoje os levo em conta de mais profundo respeito. Vai de cá, vai de lá e percebo uma certa inquietação do amigo, que faz questão de me isolar dos demais, inclusive dele que some rapidamente, para mostrar uma matéria qualquer no jornal que trouxera consigo, coisa sem importância ou, pelo menos, sem a importância que colocara em convencimento de me entreter. Intuí algo enganoso, algo fraudulento, algo escuso que me feria sem que eu pudesse localizar a proveniência de uma espécie de pontaço traiçoeiro. Logo nos juntamos novamente e aquilo ficou submerso, em águas rasas, é certo, mas suficientes para que minha visão não o percebesse de forma constante. Qual não foi minha surpresa quando, no dia seguinte, vim saber que tudo não passara de uma estratégia de péssima qualidade, rasteira eu diria, para saber o que se passava conosco, o porquê do amuo mutuo. Sei, ainda não percebestes aonde eu quero chegar. Pois bem, não quero chegar a lugar algum, quero apenas pensar que a trajetória ao respeito não carece de estratégias, é o caminho direto desde um espaço-tempo de paz que se estrutura na linguagem humana. Continuamos andando, lado a lado, agora em silêncio, até que Elfon, suavemente o quebrou com um sorriso gutural.
Roberto Bittencourt
Depois de uma semana sem postar, aqui estou novamente.
Ocorre que queimou minha placa de rede e somente hoje o técnico conseguiu trocar.
Pra recomeçar, um pequeno ensaio.
quarta-feira, março 21, 2007
terça-feira, março 20, 2007
sábado, março 17, 2007
sexta-feira, março 16, 2007
ENSAIO
Uma questão de coerência
Encantado me debulho em pensamentos de mudar o mundo, de interromper o fluxo das palavras frouxas para que a linguagem se faça de laços estreitos e fraternos. Penso em cirandas, em amarelinhas riscadas no chão de cimento ao ar das tardes cinzentas, numa poesia insuspeita aos espíritos desarmados. E percebo que são de bondade os semblantes adormecidos sob cenhos de um pavor hostil.
O encantamento surge na cor púrpura horizonte de cada olhar estendido, de cada gesto em coerência única desde as raízes da vida. Na frouxidão das palavras armam-se os olhares e a criança desce à solidão, violenta a carne peleja pela mínima energia de um pedaço de pão. O desencanto chama-se farinha e espalha-se com os ventos por entre as bocas ulceradas das constelações de zumbis.
Mas há ordem flácida na economia da vida, como se esta ainda jazesse pedra enquanto o espírito vive entes, com e além de qualquer palavra. O reencanto do mundo se dá da percepção das nervuras à congruência de um novo verso, do reverso à sutileza de um tecido e da trama ao enredo de um amor em exercício. Matéria prima dos laços lançados por Jesus em perdão, fé e tantas outras faculdades do amor.
A idéia de reencantamento não passa pela palavra – permanece nela –, qual, no advento da linguagem humana, o afeto pelas crias e o compartilhamento de alimentos a permitir evolução do primata bípede ao humano (H. Maturana - 1997). O encanto que dessa infância parte para a mediação cultural entre espíritos em nome da liberdade, percebe-se hoje em cacos, em panelinhas ou partidos, em frangalhos de uma estrutura moral exercida na incontinência.
Talvez fosse preciso reinventar a linguagem para que o encanto, o desbunde, o espetáculo, o escândalo assumissem distintas funções na ação de reencantar o mundo. Não bastam as percepções do artista, os sonhos do poeta no regaço de um linguajar privilegiado que irrompe das vísceras para agir em respeito à natureza humana, enquanto cessam violentamente as coerências na linguagem deste espaço-tempo.
Roberto Bittencourt
Encantado me debulho em pensamentos de mudar o mundo, de interromper o fluxo das palavras frouxas para que a linguagem se faça de laços estreitos e fraternos. Penso em cirandas, em amarelinhas riscadas no chão de cimento ao ar das tardes cinzentas, numa poesia insuspeita aos espíritos desarmados. E percebo que são de bondade os semblantes adormecidos sob cenhos de um pavor hostil.
O encantamento surge na cor púrpura horizonte de cada olhar estendido, de cada gesto em coerência única desde as raízes da vida. Na frouxidão das palavras armam-se os olhares e a criança desce à solidão, violenta a carne peleja pela mínima energia de um pedaço de pão. O desencanto chama-se farinha e espalha-se com os ventos por entre as bocas ulceradas das constelações de zumbis.
Mas há ordem flácida na economia da vida, como se esta ainda jazesse pedra enquanto o espírito vive entes, com e além de qualquer palavra. O reencanto do mundo se dá da percepção das nervuras à congruência de um novo verso, do reverso à sutileza de um tecido e da trama ao enredo de um amor em exercício. Matéria prima dos laços lançados por Jesus em perdão, fé e tantas outras faculdades do amor.
A idéia de reencantamento não passa pela palavra – permanece nela –, qual, no advento da linguagem humana, o afeto pelas crias e o compartilhamento de alimentos a permitir evolução do primata bípede ao humano (H. Maturana - 1997). O encanto que dessa infância parte para a mediação cultural entre espíritos em nome da liberdade, percebe-se hoje em cacos, em panelinhas ou partidos, em frangalhos de uma estrutura moral exercida na incontinência.
Talvez fosse preciso reinventar a linguagem para que o encanto, o desbunde, o espetáculo, o escândalo assumissem distintas funções na ação de reencantar o mundo. Não bastam as percepções do artista, os sonhos do poeta no regaço de um linguajar privilegiado que irrompe das vísceras para agir em respeito à natureza humana, enquanto cessam violentamente as coerências na linguagem deste espaço-tempo.
Roberto Bittencourt
quinta-feira, março 15, 2007
ENSAIO
A noite não caiu àquele dia antes que o silêncio, visível de tão estático entre as pereiras, assegurasse o tom surdo das encostas.
Desvairado por sobre a planície, ruma o vento às frestas da janela com seu hálito de gelo silvestre; agora pé ante pé, a preservar o som delicado das narinas do guri adormecido.
Aos poucos bate o desvario à porta sul, a esbordoar o lusco-fusco carregado de um carvão algodoado que filtra a represa derramada por sobre os canteiros de alfaces.
Faz-se das faces do silêncio sulcos de raios nas mãos em concha e ruge o tom das encostas às costas que sustentam a porta.
Das poças que entre si se transpassam, um vigor inverso se agita e as arremessa além de qualquer limite em horizontal líquido destempero.
As bocas-de-lobo gargarejam e os sons se misturam aos de mil cães que rosnam ao norte de um céu ainda não chovido.
Ao sul, esticada entre a esvoaçante solidão da névoa e o tilintar penetrante das gotas do aguaceiro, a planície desbotada sorve do dia seus últimos instantes.
Dos borrões do norte ao extremo traço grená do horizonte sudeste, posa tímida a noite, já sem holofote, às vistas do guri desperto ao rugido que forçou a porta.
As molduras líquidas dos canteiros derramam dos sulcos e o bocejo do despertar recente embaça a vidraça, num convite ao traço de acordar por inteiro.
Quase sem vincos encostas, noite e tudo o que se vê se interpenetram na lentidão de um silêncio regado às cores do amanhã.
Roberto Bittencourt
Desvairado por sobre a planície, ruma o vento às frestas da janela com seu hálito de gelo silvestre; agora pé ante pé, a preservar o som delicado das narinas do guri adormecido.
Aos poucos bate o desvario à porta sul, a esbordoar o lusco-fusco carregado de um carvão algodoado que filtra a represa derramada por sobre os canteiros de alfaces.
Faz-se das faces do silêncio sulcos de raios nas mãos em concha e ruge o tom das encostas às costas que sustentam a porta.
Das poças que entre si se transpassam, um vigor inverso se agita e as arremessa além de qualquer limite em horizontal líquido destempero.
As bocas-de-lobo gargarejam e os sons se misturam aos de mil cães que rosnam ao norte de um céu ainda não chovido.
Ao sul, esticada entre a esvoaçante solidão da névoa e o tilintar penetrante das gotas do aguaceiro, a planície desbotada sorve do dia seus últimos instantes.
Dos borrões do norte ao extremo traço grená do horizonte sudeste, posa tímida a noite, já sem holofote, às vistas do guri desperto ao rugido que forçou a porta.
As molduras líquidas dos canteiros derramam dos sulcos e o bocejo do despertar recente embaça a vidraça, num convite ao traço de acordar por inteiro.
Quase sem vincos encostas, noite e tudo o que se vê se interpenetram na lentidão de um silêncio regado às cores do amanhã.
Roberto Bittencourt
terça-feira, março 13, 2007
sexta-feira, março 09, 2007
quinta-feira, março 08, 2007
sexta-feira, março 02, 2007
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